PARADISE OVERPASS de @rimbawangerilya propõe um labirinto inspirado nos bairros de baixa renda da Indonésia, onde confluem o bricolage diy, habitações barrocas e a cultura popular do sudeste asiático. LANDFILL de @daemonlovers examina a produção de imagens durante o capitalismo selvagem e como elas manifestam uma cosmogonia corporativa de acumulação e desejo. FRAGMENTO URBANO de @heladinaa apresenta uma colagem digital que aborda a transformação material da cidade mediada por agentes publicitários.
Esta tríade de peças comissionadas para a quinta edição do festival RealMix compartilha uma espécie de dissonância cognitiva em que lugares aparentemente comuns e reconhecíveis contêm traços que tangenciam o uncanny e o eerie, que interpõem os visitantes da exposição com um possível futuro onde o ridículo e a suspeita são a norma.


Rimbawan Gerilya
Artista digital radicado em Jacarta, Indonésia. Sua obra explora a interseção entre gráficos 3D, áudio digital e multimídia, articulando experiências imersivas que examinam a relação entre avanços tecnológicos e a vida cotidiana no sudeste asiático. Sua prática, que ele denomina “Futurismo do Terceiro Mundo”, surge de processos criativos baseados na restrição como ferramenta expressiva, combinando estéticas lo-fi, espiritualidade secular, humor absurdo e crítica sociopolítica para reinterpretar imaginários dominantes da cultura digital contemporânea desde o Sul Global.
Paradise Overpass
Paradise Overpass é uma experiência imersiva que transporta o público para os estreitos e sufocantes becos de um bairro humilde em Jacarta. Em meio a esse labirinto aparece um jardim improvisado sob um viaduto, povoado por estátuas clássicas desgastadas e vegetação que resiste ao ruído urbano. A obra reflete sobre o espaço de tensão entre as limitações impostas pelo entorno e a esperança que sobrevive, apesar de tudo, em pequenos fragmentos cotidianos de beleza precária.


Demon Lovers
DemonLovers Inc. é a prática colaborativa dos artistas visuais e cineastas Dayana Matasheva e Edson Niebla, radicados em Montreal e em breve em Nova York. Seu trabalho, baseado principalmente em vídeo, transforma os espaços expositivos em cenários cinematográficos provisórios, onde objetos, telas e referências arquitetônicas colocam o espectador como ator involuntário. Concebem a internet como uma máquina de desejos, abordando os algoritmos não como sistemas lógicos, mas como rituais de projeção, controle e fantasia. Recentemente expuseram em Sight & Sound (Eastern Bloc, Montreal, 2024), Milão, Berlim e Hamburgo (2025), e realizaram uma residência na Virreina (Colômbia).
LANDFILL
LANDFILL é uma instalação virtual que funciona simultaneamente como retrospectiva e crítica às formas atuais de produção e consumo visual. A obra reúne um ano de materiais - vídeos, imagens geradas por IA, instalações e arquivos inéditos - em um ambiente navegável marcado pela saturação estética. Inspirada no arquivo caótico de Un an de télé vu par Guillaume de Chris Marker, propõe uma experiência sem hierarquias nem ordem fixa. Ao centro, um buraco negro remete ao desejo como ausência e compulsão visual, abrindo caminho para um segundo espaço onde se projeta Life (2024), um vídeo sobre ansiedade e sobreexposição. LANDFILL revela como a paisagem digital se converteu em espelho do colapso ambiental: automatizado, hiperacessível e repleto de ruído visual.


Victoria Cruz Roldán
Artista visual emergente de Pereira, radicada em Bogotá. Sua prática se situa entre a memória, a virtualidade e a criação coletiva, abordando temas como identidade e paisagens emocionais que emergem das relações entre corpos, tecnologias e territórios. Trabalha com meios como videoarte, escultura e animação, mantendo uma tensão constante entre arte e publicidade, disciplina na qual também se formou, junto à sua graduação em Artes Visuais na Pontifícia Universidade Javeriana. Coordenou espaços culturais autogeridos e participou de exposições, publicações e eventos acadêmicos em Bogotá, Popayán, Madri, Berlim, Nova York, Amsterdã, Santiago do Chile e Guadalajara. Interessa-se especialmente pelo cruzamento entre o digital e o físico como espaço de experimentação estética e afetiva.
Nível: Fragmento urbano
Nível: Fragmento urbano é uma obra imersiva de Victoria Cruz Roldán que propõe uma reinterpretação sensível da paisagem urbana de Bogotá através de uma colagem digital. Longe de replicar um lugar específico, a peça constrói uma rua fictícia a partir de referências do imaginário coletivo e do arquivo pessoal da artista. Projetada em perspectiva em primeira pessoa, a experiência convida a percorrer o espaço como uma partícula de poeira flutuante: uma presença leve, quase invisível, que perambula entre empanadas de rua ou se infiltra no olho de um transeunte. Por meio de texturas escaneadas, sobreposições gráficas e erros visuais, o ambiente evoca uma atmosfera introspectiva, onde cada fragmento apela à memória, ao acaso e à imaginação. Mais do que representar uma cidade, a obra propõe habitá-la a partir de uma escala mínima, poética e ambígua.